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segunda-feira, 5 de outubro de 2009

CHINA: “A ECONOMIA SOCIALISTA DE MERCADO”

A China é hoje um país com dois sistemas econômicos amalgamados por um único sistema político, a ditadura de partido único, que ainda persiste. Os próprios dirigentes chineses definem seu país como uma economia “socialista de mercado”. Que “bicho” é esse? A China é a economia que, ao longo dos anos 90, mais tem crescido no mundo, enquanto a União Soviética, seu modelo inicial, desapareceu. O país já é uma das maiores economias do planeta e cada vez mais o mercado mundial é invadido por produtos made in China. Para entendermos esses fatos, vamos fazer um retrospecto da história do dragão do século XXI.

Apesar da proclamação da República, o país continuou mergulhado no caos político, econômico e social. O poder permanecia fragmentado. Muitas regiões estavam sob o controle de lideranças locais. Pequim controlava apenas uma pequena parte do país e mantinham-se os laços de dependência com as potências estrangeiras.

Foi por essa época que surgiu uma incipiente industrialização, coma a chegada de capitais estrangeiros interessados em aproveitar-se da mão-de-obra muito barata e da abundância de matérias-primas. Começaram a ser instaladas algumas fábricas nas principais cidades do país, com destaque para Xangai. Uma industrialização dependente prosperava muito lentamente na China, que continuava um país de camponeses dominado por estrangeiros. Com a invasão japonesa e a guerra civil, esse incipiente processo de industrialização foi abortado. Já na Primeira Guerra Mundial os japoneses juntaram-se às potências ocidentais e ocuparam a região de Shantung, no nordeste do território chinês.

Entre a intelectualidade chinesa, desiludida com a ideologia liberal e diante da impossibilidade de desenvolvimento dentro de um modelo capitalista dependente, ganharam força as idéias revolucionárias. Além de receber influência da Revolução Russa, essas idéias juntavam-se agora aos sentimentos nacionalista e anticolonial que fez surgir, em 1921, o Partido Comunista Chinês (PCC), tendo como um dos fundadores Mão Tse-Tung, seu futuro líder.

Em 1925, o Kuomintang (Partido Nacional Chinês) passa a ser controlado por Chiang Kai-Shek. Depois de uma breve convivência pacífica, em 1927 o governo nacionalista colocou o PCC na ilegalidade, iniciando uma guerra civil entre comunistas e nacionalistas que se estenderia, com breves interrupções para combater os japoneses, até o fim da década de 40. Depois de unificar o país, em 1928, Chiang Kai-Shek passou a liderar o Governo Nacional da China com mão de ferro.

Em 1937, os japoneses declararam guerra total contra a China, atacando-a maciçamente. Chegaram a ocupar, próximo do fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, pewrto de dois terços do território chinês. Todas as cidades mais importantes do país estavam sob seu controle. Somente nesse curto período de tempo houve um apaziguamento entre comunistas e nacionalistas, empenhados em derrotar os invasores japoneses. Assim, bastou o Japão assinar a sua rendição na Segunda Guerra Mundial para que a guerra civil na China se agravasse seriamente, caminhando para um desfecho definitivo. Depois de 22 anos de guerra civil, com breves interrupções, os comunistas do Exército de Libertação Popular, liderados por Mão Tse-tung, finalmente saíram vitoriosos. Em outubro de 1949, foi proclamada a República Popular da China. O país foi unificado sob o controle dos comunistas, comandados por Mão, então secretário-geral do PCC. Surgia então a China Comunista. Os nacionalistas, comandados por Chiang Kai-Shek, ao se refugiarem na ilha de Formosa, fundaram a República da China Nacionalista, também conhecida como Taiwan.

A CHINA COMUNISTA

A Revolução Chinesa de 1949 foi um grande divisor de águas na história do país, e isso já ficara evidente quando Mão Tse-tung, em discurso feito durante a proclamação da República, afirmou para uma multidão em Pequim: “O povo chinês se levantou (...); ninguém nos insultará novamente”.

Pelo menos no início, até mesmo por falta de opção, a China revolucionária seguiu o modelo político-econômico vigente na extinta União Soviética. Politicamente, com base na ideologia marxista-lininista, implantou-se um regime político centralizado sob o controle do Partido Comunista Chinês, cujo líder máximo era o secretário-geral, Mão Tse-tung. Economicamente, como resultado da coletivização das terras, implantaram-se gradativamente as comunas populares, que seguiam em linhas gerais, o modelo dos KOLKHOZES (Cooperativa agrícola da extinta União Soviética em que o Estado confiou parte das suas terras aos seus membros, com usufruto perpétuo e gratuito, o que os tornava co-proprietários) soviéticoa. O Estado passou a controlar também todas as fábricas e recursos naturais. No entanto, é interessante lembrar que a Revolução Chinesa, diferentemente da Revolução Russa, foi essencialmente camponesa.

O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO

A China ao seguir o modelo soviético, passa a priorizar investimentos nas indústrias de base, na indústria bélica e em obras de infra-estrutura que sustentassem o processo de industrialização, e o campo?? Apesar de dispor de numoerosa mão-de-obra, de abundantes recursos minerais e fósseis, a industrialização chinesa mostrou-se um grande fracasso, desarticulando totalmente a economia industrial e agrícola do país.

A industrialização chinesa acabou padecendo dos mesmos males do modelo soviético: baixa produtividade, produção insuficiente, baixa qualidade, concentração de capitais no setor armamentista, burocratização, etc.

Além disso, a Revolução Cultural maoísta (1966-1976) acabou por agravar a crise econômica, gerando um verdadeiro caos político. Consistia em um esforço de transformação ideológica contra quem estava questionando seus métodos, além de isolamento econômico em relação ao exterior.

As divergências e as desconfianças entre os líderes dos dois principais países socialistas aumentavam cada vez mais. A China desenvolve bombas nucleares, e a União Soviética não admitia perder a hegemonia nuclear no bloco socialista. Elas rompem seus acordos, e a URSS retira todos os seus assessores e técnicos da China, além de não mais apoiar a China. Esse período foi interessante, pois aproximou a China dos EUA, e Richard Nixon, em 1972, convida a China para participar na ONU, em substituição à Taiwan, tornando-se membro permanente do Conselho de Segurança da entidade.

Em 1979, Mão,falece.Foi substituído por Deng Xiaoping. Com a crítica à Revolução Cultural, os novos donos do poder iniciaram um processo de DESMAOIZAÇÂO na China. Uma nova revolução estava por acontecer!!

A “ECONOMIA SOCIALISTA DE MERCADO”

O gigante chinês, depois de viver décadas em estado de letargia, à margem do explosivo crescimento econômico de seus vizinhos – os Tigres Asiáticos_, resolveu finalmente acordar. Sob o comando de Deng Xiaoping, iniciou-se, a aprtir de 1978, um proceso de regprma econômica no campo e na cidade, paralelamente à abertura da economia chinesa ao exterior. A China buscava segundo Deng: “ integrar a verdade universal do marxismo com a realidade concreta de nosso país(...) e construir um socialismo com peculiaridades chinesas”? Trata-se, na verdade, de uma tentativa de conciliar o processo de abertura econômica ( o estímulo à iniciativa privada, ao capital estrangeiro, à modernização do país) com a manutenção, no plano político, de uma ditadura de partido único.

Para um país com uma população com mais de um bilhão de habitantes, e aproximadamente 70% camponesa, é natural que as reformas se iniciassem pela agricultura. Foram extintas as comunas popularese, embora a terra continuasse peretencendo ao Estado, cada família poderia cultivá-la como desejasse. Depois de entregar uma parte ao Estado, poderia vender no mercado o restante.

A reforma na agricultura provocou a disseminação da iniciativa privada e do trabalho assalariado no campo, levando a um aumento da renda dos agricultores, inclusive com o surgimento de uma camada de camponeses ricos. Houve também uma expansão do mercado interno, como conseqüente estímulo à economia como um todo.

A partir de 1982, iniciou-se efetivamente o processo de abertura no setor industrial. As indústrias estatais tiveram que se enquadrar à realidade e foram incentivadas a adequar-se aos novos tempos, melhorando a qualidade de seus produtos, abaixando seus preços e ficando atentas à demanda do mercado. Além disso, o governo permitiu o surgimento de pequenas empresas e autorizou a constituição de empresas mistas (joint ventures), atraindo o capital estrangeiro.

A grande virada, porém, veio mesmo com a abertura das ZONAS ECONÔMICAS ESPECIAIS em várias provinciais litorâneas. O objetivo fundamental dessas zonas econômicas, espécie e enclaves capitalistas dentro da China, era atrair empresas estrangeiras, que trariam, além de capitais, tecnologia e experiência de gestão empresarial, que faltavam aos chineses.

Como resultado disso tudo, a economia da China cresce a uma taxa média de 9% ao ano. Com certeza, uma das taxas mais altas do mundo.

No plano da economia, a China está seguindo, em linhas gerais, os passos dos Tigres. Aliás, é interessante lembrar que, com exceção da Coréia do Sul, as populações de Taiwan, Hong Kong e Cingapura são compostas basicamente por chineses, o que favorece o fluxo de capitais, informações, pessoas e de uma “cultura capitalista”. Aí está, portanto, a face “tigre” da China, nas zonas econômicas especiais.

O “MILAGRE CHINÊS”

Além da liberalização econômica, o fator fundamental que está atraindo vultosos capitais para a China, notadamente para as ZEEs, é o baixíssimo custo de uma mão-de-obra muito disciplinada e trabalhadora. Aliás, esse é o grande fator de competitividade da indústria chinesa no momento. Nesse sentido, ela está no mesmo patamar dos Tigres há mais ou menos vinte anos. O salário mínimo na China é de 25 dólares por uma jornada de trabalho de 12 horas diárias.

Uma outra face desse “milagre” é o aprofundamento das desigualdades sociais e regionais, que tem provocado o aumento das migrações internas, apesar das restrições do governo central.

Assim, com base em uma profunda abertura econômica e nos baixos salários, o MADE IN CHINA invadiu o mundo. No entanto, cada vez mais levantam-se restrições ao país, que constantemente é acusado (até pelo Brasil) da prática de “DUMPING SOCIAL”, ou seja, vende produtos muito baratos, já que superexplora a mão-de-obra, fazendo uma concorrência desleal.

Como conseqüência desse verdadeiro BOOM industrial, a China tem, atualmente, um parque industrial bastante diversificado. No entanto, tem apresentado um crescimento bastante desigual não só territorial, mas também setorialmente.

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