Olha o tempo...

domingo, 21 de agosto de 2011

Atento as datas dos textos!!!!

Pessoal do oitavo ano fiquem atentos as diferentes datas dos referidos textos aos quais terão que dar suas impressões!!!

Estamos em 2011 e muitos arranjos geopolíticos ocorreram!!! Fiquem atentos!!

Bons estudos e uma ótima semana de provas!!!

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Gabarito nono ano - lista de exercícios de recuperação paralela


Pessoal do nono ano!!!! Clique nesse link e ai você poderá abrir a lista de exercício corrigida.

OBS: RESPOSTAS EM VERMELHO!!!! Esse LINK também está no Twitter. O meu twitter é bethramoa




domingo, 7 de agosto de 2011

A RAZÃO DO IMPÉRIO*

Os Estados Unidos vão continuar a defender e exercer o poder sem concessões às demandas das outras potências

“Uma aliança entre país constitui-se quando um grupo de nações decide defender um território específico ou uma causa particular; isso define um limite cuja violação constitui casus belli. Pelo contrário, um ‘sistema de segurança coletiva’ não define um território a ser defendido, nem os meios ou armas para fazê-lo.”
HENRY KISSINGER, “Does America need a Foreign Policy. Toward a Diplomacy for the 21th Century”, 2001

O lugar ideal para olhar os caminhos do mundo, em 2005, são as janelas da Casa Branca, em Washington. Ali foram tomadas as decisões que estão redesenhando a geopolítica mundial, desde 1991. Hoje, 13 anos depois da Guerra do Golfo e do fim da União Soviética, ninguém duvida que essas decisões contribuíram decisivamente para a expansão do poder global dos Estados Unidos, que, no início do século XXI, é muito superior ao de todas as demais potências que disputaram a hegemonia mundial, a partir do século XVI. Por isso fala-se cada vez mais num “império americano”, e virou lugar-comum compará-lo com o Império Romano.

Os Estados Unidos saíram da Guerra Fria na condição de hiperpotência, vitoriosa no campo ideológico e econômico e sem adversários geopolíticos capazes de concorrer no campo militar. A União Soviética desintegrou-se juntamente com o projeto socialista, e a Rússia se mantém na condição de segunda potência atômica do mundo, mas precisará de tempo para alicerçar economicamente este poder.

O Japão e a Alemanha, a segunda e a terceira maiores economias do mundo, seguem estagnadas e na condição de protetorados militares dos Estados Unidos; a União Européia move-se em câmera lenta rumo à sua unificação efetiva, contida por suas divergências e conflitos seculares que impedem que ela se transforme num verdadeiro Estado supranacional.

A China é a economia que mais cresce no mundo e tem um projeto estratégico de longo prazo do qual não se afasta, e que a levará à condição de potência mundial, em algumas décadas, mas ela não está disposta a enfrentamentos imediatos, que não sejam por causa de Taiwan.

O resto do mundo parece condenado a um conflito prolongado, como no Oriente Médio, a uma longa exclusão econômica do sistema mundial, como no caso da África, ou a um crescimento vegetativo e errático, mas com pouca relevância geopolítica, como no caso da América Latina.

Em síntese, os Estados Unidos ocupam uma posição de poder absolutamente confortável e inquestionável, e vêm dando demonstrações sucessivas de que pretendem defendê-lo e exercê-lo sem maiores concessões efetivas às demandas “multilateralistas” das outras Grandes Potências. Dessa perspectiva, 2005 deverá ser um ano de acomodação ou de digestão dos acontecimentos e das mudanças de poder que se aceleraram depois dos atentados de 2001. Mas não é possível deduzir o futuro imediato, em linha reta, olhando apenas para os caminhos abertos por esta gigantesca concentração de poder, em mãos de um único Estado nacional.

Em primeiro lugar, porque o funcionamento deste hiperpoder, depois de 1991, não promoveu a paz universal, nem conseguiu estabilizar a economia internacional, como muitos analistas e teóricos acreditaram que aconteceria. Em 1991, a coalizão militar – composta por 28 países – liderada por Estados Unidos e Inglaterra, venceu a Guerra do Golfo e derrotou o Iraque, depois de um mês de bombardeio aéreo contínuo do território inimigo. Expulsou as tropas iraquianas do Kuwait, mas não conquistou Bagdá e não depôs Saddam Hussein.

Entre 1991 e 2003, os Estados Unidos e a Inglaterra bombardearam o território iraquiano, de forma quase contínua, mas não conseguiram atingir e mudar o regime político nem liquidar o aparato militar de Saddam Hussein.

Em 1999, as tropas da Otan, sob a liderança militar dos Estados Unidos, fizeram uma “intervenção humanitária” no Kosovo, bombardearam e destruíram a economia iugoslava e assumiram a administração direta da província, sem conseguir reorganizar o país, nem muito menos eliminar os conflitos étnicos que seguem dividindo a população local, e que foram o motivo explícito da ocupação militar.

Em 2002, a coalizão militar liderada pelos Estados Unidos derrotou o governo Taleban do Afeganistão, substituído por um homem da confiança norte-americana, que foi confirmado pelas eleições de 2004, mas só controla de fato a região em torno de Cabul, porque o resto do território afegão segue em mãos dos “senhores da guerra” e dos próprios talebans. Em 2003, os Estados Unidos e a Inglaterra venceram a Guerra do Iraque, conquistaram Bagdá, destruíram as forças militares iraquianas e destituíram Saddam Hussein.

Mas depois, não conseguiram reconstruir o país nem definir com precisão os objetivos de longo prazo das tropas de ocupação que permanecem em território iraquiano, depois da constituição de um governo local sob tutela americana.

Portanto, 13 anos depois da Guerra do Golfo e do fim da Guerra Fria, o balanço que se pode fazer deste novo tipo de império, do ponto de vista dos objetivos norte-americanos, é bastante negativo. Suas intervenções militares não expandiram a democracia nem os mercados livres; as guerras aéreas não foram suficientes, sem a conquista territorial; e a conquista militar desses territórios não deu conta do problema da reconstrução nacional dos países derrotados.

Em segundo lugar, porque a própria estratégia global americana contém contradições que acabarão afetando e desviando seu caminho expansivo. A começar por sua proposta de criação de uma aliança mundial contra o “terrorismo internacional”, que não tem condições de se sustentar por um período prolongado de tempo.

Basta olhá-la com um pouco mais de atenção para perceber suas limitações intrínsecas. Do ponto de vista da “segurança interna” dos Estados Unidos, é da natureza do novo inimigo, segundo Donald Rumsfeld, mover-se no campo “do desconhecido, do incerto, do inesperado”, aproveitando-se de toda e qualquer “vulnerabilidade americana”. Uma ameaça, portanto, que pode ser nuclear, mas também pode ser cibernética, biológica, química, e pode estar no ar, na terra, na água, nos alimentos, enfim, em centenas de veículos ou lugares diferentes. Nesse sentido, nesta guerra escolhida pelos Estados Unidos, tudo pode se transformar numa arma, em particular as inovações tecnológicas dos próprios americanos. E tudo pode se transformar num alvo, em particular as coisas mais prezadas e desprotegidas dos norte-americanos.

Daí a necessidade defendida pelo governo Bush de criar uma “rede cidadã” de espionagem, constituída por milhões de homens e mulheres comuns que gastariam parte dos seus dias controlando e vigiando seus próprios vizinhos. E é isso que explica, também, a criação pelo governo americano de novas “equipes vermelhas” encarregadas de planejar ataques contra os Estados Unidos, pensando como terroristas, para poder identificar as “vulnerabilidades” do país.

Desse ponto de vista, a visão imperial dos Estados Unidos e a ubiqüidade do seu adversário “interno”, exigirá um controle permanente e cada vez mais rigoroso da própria sociedade americana, vista pelo governo como um imenso universo de possibilidades agressivas, o que aponta numa direção que combina paranóia coletiva com repressão crescente, uma combinação insustentável por muito tempo, num sistema democrático.

Por outro lado, do ponto de vista da segurança externa dos Estados Unidos, a nova estratégia cria uma situação de insegurança coletiva e permanente, dentro do sistema mundial. O novo adversário não é, em princípio, uma religião, uma ideologia, uma nacionalidade, uma civilização ou um Estado, e pode ser redefinido a cada momento pelos próprios Estados Unidos, sendo, portanto, variável e arbitrário.

E, nesse sentido, os Estados Unidos atribuem-se o direito de fazer ataques preventivos contra todo e qualquer Estado onde eles considerem existir bases ou apoio às ações terroristas, o que significa a auto-atribuição de uma soberania imperial. Problema que deverá se agravar, ainda mais, na medida em que outros países, em particular as demais Grandes Potências, se sentirem ameaçadas por forças consideradas terroristas, qualquer que seja a sua natureza, incluindo nações ou minorias internas e rebeldes dentro dos seus territórios.

Neste momento, todos os que tiverem a capacidade militar necessária seguirão o caminho aberto por Israel, e seguido pelos Estados Unidos, optando pelos ataques preventivos. Portanto, a nova doutrina estratégica americana terá inevitavelmente desdobramentos contraditórios e perversos, porque, estabelecido e aceito o princípio geral do “ataque preventivo”, não há consenso sobre o que seja, e quem sejam os terroristas, para cada uma das potências que detêm atualmente os armamentos de destruição de massa. Por isso, a Rússia, a França e o Japão já se atribuíram o mesmo direito aos “ataques preventivos”, mesmo que seja contra minorias nacionais, e no caso do Japão, contra uma ameaça atômica virtual por parte da Coréia do Norte.

Por esse caminho, não há como se equivocar: em algum momento o conflito se deslocará para dentro do núcleo de poder do sistema mundial, recolocando o velho conflito, nu e cru, entre as Grandes Potências.

Aponta nessa direção a decisão americana de devolver a liberdade de iniciativa militar ao Japão e à Alemanha, por conta da Guerra do Afeganistão. E mais recentemente, a reivindicação russa do seu direito de “proteção” à sua “área de influência” ou “zona de segurança” clássica, onde estão incluídos vários territórios que já foram ocupados militarmente pelos Estados Unidos, depois de 1991.

Enquanto a Europa continental começa a rebelar-se contra sua situação de refém militar da Otan e dos Estados Unidos, o que prenuncia o retorno da luta pela hegemonia dentro do continente europeu, mesmo que seja na forma de uma luta prolongada pelo controle da União Européia.

Nesta região, se a Inglaterra sair da União Européia, não é improvável que os capitais alemães acabem seguindo o caminho da história e estabelecendo uma nova e surpreendente aliança com o poder militar “ocioso” da Rússia. Enquanto isso, do outro lado do mundo, o sistema estatal asiático se parece cada vez mais com o velho modelo de competição pelo poder e riqueza que foi a marca originária do “milagre europeu”, desde o século XVI.

E não é provável que se repita na Ásia algo parecido com a União Européia. Pelo contrário, o que se deve esperar é uma intensificação da competição econômica e política pela hegemonia regional, entre a China, o Japão, a Coréia, a Rússia e os próprios Estados Unidos.

Dessa perspectiva, não há dúvida de que a grande novidade geopolítica e geoeconômica do sistema mundial, desde os anos 90, é a nova relação que se estabeleceu entre os Estados Unidos e a China. Ela reproduz e prolonga o eixo Europa-Ásia que dinamizou o sistema estatal e capitalista desde sua origem, e a relação privilegiada dos Estados Unidos com o Japão, desde 1949.

Mas ao mesmo tempo ela contém algumas novidades notáveis. Em primeiro lugar, o novo motor geoeconômico do capitalismo mundial deslocou e esvaziou o tripé da “época de ouro” da economia mundial – Estados Unidos, Alemanha e Japão – que funcionou de maneira extremamente virtuosa entre 1945 e 1980.

Em segundo lugar, esta nova engenharia econômica mundial e a prolongada estagnação das economias alemã e japonesa vêm recolocando o problema dos seus projetos nacionais derrotados ou bloqueados, e a necessidade de retomá-los como forma de sair da crise, sem contar com a ajuda americana. Em terceiro lugar, esta nova aliança apressou a volta da Rússia às suas posições clássicas de corte nacionalista e militarista, obrigada por sua posição eternamente dividida, entre sua presença na Ásia e na Europa.

Mas não há dúvida de que o aspecto mais importante desta nova relação entre Estados Unidos e China é que ela é complementar e competitiva a um só tempo e, ao mesmo tempo, ela é econômica e militar.

Este foi o grande segredo do sistema mundial criado na Europa, no século XVI: a inevitável complementariedade entre os principais competidores que disputam situações hegemônicas e que dinamizam o conjunto do sistema, durante algum tempo, graças à sua competição.

Essa regra não foi obedecida durante a Guerra Fria, quando os Estados Unidos mantiveram sua competição militar com um país com quem não mantinham relações econômicas importantes para o dinamismo de sua própria economia nacional (a URSS). E mantiveram relações econômicas dinâmicas com países que não tinham autonomia militar, nem possibilidade de expandir seu poder político nacional (a Alemanha e o Japão).

Tudo indica que agora, com a nova relação que vem se consolidando entre os Estados Unidos e a China, o sistema mundial deve voltar aos seus trilhos “normais”. Neste momento, os Estados Unidos não têm mais como se desfazer economicamente da China, mas chegará a hora em que terão de enfrentar o desafio da expansão chinesa, sobretudo, quando ela deixar de ser apenas um fenômeno comercial. Na hora em que a China decidir expandir e consolidar seu “território econômico-financeiro” supranacional, lutando ao mesmo tempo pela hegemonia político-militar, na Ásia.

* Parte deste artigo aparece no ensaio “O poder global dos Estados Unidos.
Formação, expansão e limites”, no livro O Poder Americano, publicado em 2004, pela Editora Vozes.

José Luís Fiori
Revista Carta Capital, 29 de Dezembro de 2004
Ano XI - Número 323


A NOVA DESORDEM NUCLEAR

O caso do Irã e o recente acordo entre Índia e EUA põem à prova o atual equilíbrio atômico mundial

Mais de 15 anos depois do fim da Guerra Fria, o mundo continua sentado sobre um enorme barril de pólvora: russos e americanos conservam mais de 30 mil ogivas nucleares e existem quase 5 mil toneladas de urânio altamente enriquecido e 450 de plutônio em poder de vários países, são suficientes para fabricar mais milhares de armas atômicas.

O quadro se completa com mais de 500 incidentes de contrabando de produtos nucleares ou radioativos confirmados desde 1993 pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o órgão da ONU encarregado de zelar pelo cumprimento do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), uma peça-chave da ordem mundial, para muitos hoje avariada.

"A assinatura do TNP em 1968 e sua entrada em vigor dois anos depois foi possível pelo medo dos países de que se desencadeasse uma guerra nuclear", afirmou um especialista que conhece há anos o trabalho da AIEA. "O equilíbrio de terror tornou aceitável um compromisso entre os países nucleares e os que não o eram, que consiste no 'eu não prolifero e em troca você se desarma'. Isso não existe mais. Depois da Guerra Fria, veio um certo caos", acrescenta.

Apesar de nos últimos 30 anos, segundo o consenso de especialistas, o TNP ter evitado a multiplicação do número de países detentores de armas atômicas -- atualmente só as possuem os cinco grandes, mais Índia, Paquistão e Israel, que nunca assinaram o tratado --, os casos da Coréia do Norte e do Irã puseram o TNP no limite de sua validade, ao colocar sob a luz mais crua o grande jogo de estratégia e a dupla moral da comunidade internacional.

A Coréia do Norte saiu do TNP em 2003 e faz dois anos que os inspetores da AIEA visitaram suas instalações nucleares. Existem suspeitas fundadas de que ela já pode fabricar armas atômicas. Mas seu caso é discutido em Pequim em negociações multilaterais.

O expediente do Irã, que durante 18 anos escondeu que desenvolvia um programa nuclear, já está sobre a mesa do Conselho de Segurança da ONU, e suas instalações foram submetidas a "intensas verificações " pela AIEA, que não pôde concluir se seus planos são "exclusivamente pacíficos".

Pelo contrário, Paquistão, Israel e Índia não se submeteram a qualquer controle e o último acaba de ser recompensado pela Casa Branca com um grande acordo de transferência de material e tecnologia atômicos. Os critérios morais não contam no âmbito nuclear. Como indicam fontes da União Européia, "o importante não são as armas, mas o regime que as possui e seu contexto geopolítico".

Exemplos do primeiro são também o Irã e a Índia. Por um lado, os EUA incentivaram o xá nos anos 70 a implementar um plano nuclear, e por outro condenaram em 1974 o primeiro teste nuclear realizado com fins científicos por Nova Déli, na época aliada da União Soviética.

De fato, George W. Bush, com o acordo feito há alguns dias com o governo indiano, pôs fim a uma política seguida por seis presidentes americanos, de Nixon a Clinton, passando por seu próprio pai. A essa questão de confiança na democracia mais populosa do mundo, contra a teocracia dos aiatolás que clamam pela destruição de Israel, é preciso somar a percepção de segurança, a razão estratégica dos países que ambicionam possuir armas atômicas.

Se Israel as utiliza como elemento máximo de dissuasão contra um cerco de países árabes hostis, o mesmo ocorre atualmente com o Irã, rodeado de potências nucleares e de tropas e bases americanas.

Haizam Amirah, especialista em Oriente Médio e pesquisador do Real Instituto Elcano de Estudos Internacionais, aponta outros motivos: "Os iranianos calculam que têm à sua frente uma janela de oportunidade para conseguir sua arma. Sentem-se fortalecidos em nível regional. Vêem os EUA reféns de sua influência entre os xiitas do Iraque; o inimigo taliban já não existe no Afeganistão, o Hamas triunfou nas eleições palestinas e o preço do petróleo está muito alto. Não se deve esquecer que 25% do consumo mundial de petróleo passam todos os dias pelo estreito de Ormuz, que está sob controle iraniano".

Um dado mais decisivo para os planos de Teerã é a leitura que os mulás, segundo Amirah, fizeram da invasão do Iraque e que ele formula assim: "Os EUA puderam fazer uma troca de regime no país vizinho porque não tinha capacidade de dissuasão, enquanto a Coréia do Norte, que a tem, teve outra sorte".

Fiasco iraquiano e duplo critério internacional à parte, os analistas concordam que um Irã nuclear desencadearia uma corrida de armas no Oriente Médio à qual se somariam previsivelmente Arábia Saudita, Egito, Turquia e até a Argélia.

Os críticos do acordo entre Washington e Déli afirmam que este também envia uma mensagem equivocada aos países tentados pela arma atômica, já que "premia um mau comportamento", segundo fontes da AIEA. Foi o que disse esta semana em Viena um representante da Líbia, que se queixou publicamente de não ser "compensado" por ter aberto há dois anos seus arsenais de armas de destruição em massa para britânicos e americanos.

Não obstante, Trípoli negocia atualmente com Paris um acordo de cooperação de energia nuclear civil. O governo paquistanês também exigiu de Bush durante sua visita a Islamabad o mesmo tratamento nuclear que receberá a Índia, no que foi imediatamente descartado pelos EUA, que não esquecem o supermercado atômico aberto por Abdul Qader Jan, o pai da bomba paquistanesa, castigado e perdoado pelo presidente Pervez Musharraf.

Além disso, o acordo assinado em Déli, acrescentam seus detratores, dará lugar a uma nova corrida de armas ou no mínimo a uma tentativa de modernização de seus arsenais por parte de Paquistão e China, já que os EUA vão fornecer à Índia tecnologia e material que, teme-se, lhe permitirão fabricar mais armas atômicas por ano.

Mas o pacto nuclear entre as duas maiores democracias, que ainda deverá ser aprovado pelo Congresso americano, também apresenta aspectos positivos, principalmente ecológicos, porque conterá a demanda de petróleo causada pelo crescimento econômico exponencial da Índia e porque permite que dois terços de seu programa nuclear -- 14 dos 22 reatores que possui, os dedicados à energia de uso civil -- sejam controlados por inspetores da AIEA.

O próprio Mohamed el Baradei, diretor desse órgão, deu boas-vindas ao acordo, entre outras coisas, indicam fontes diplomáticas e européias, "porque além da não-proliferação a responsabilidade de que não ocorra outro Chernobyl também é da AIEA".

A aliança nuclear entre Índia e EUA tem um motivo estratégico de maior calado: o isolamento da China, a quem os neoconservadores vêem como a grande rival da hegemonia americana em meados deste século. Uma aliança forjada quando os EUA, como demonstram os professores Keir A. Lieber e Daryl G. Press este mês na revista "Foreign Affairs", inauguram uma nova era de primazia nuclear.

Depois de 40 anos de vigência da chamada destruição mútua garantida -- lançar uma guerra nuclear equivalia a um suicídio --, Washington tem a disposição, devido à modernização de seus arsenais juntamente com a deterioração e pobreza dos da Rússia e da China, respectivamente, de desferir o primeiro golpe sem dar ao inimigo possibilidade de resposta.

As velhas certezas do equilíbrio nuclear parecem ter caducado.

Luis Prados,
El País, 11 de março de 2006


A NOVA GEOPOLÍTICA

Com orçamento militar recorde, EUA adotam unilateralismo e se posicionam para a nova fase da competição econômica global

Petróleo e terror movem poderio bélico

Em linha de guerra ao terror e com suas ambições geopolíticas, o governo George W. Bush promoveu a maior reorganização e modernização das tropas militares americanas dos últimos 50 anos. No início do seu governo, Bush prometeu manter a força militar americana ""acima de todos os desafios, tornando qualquer corrida armamentista de tempos passados totalmente inútil".

Depois do 11 de Setembro, Bush anunciou que essa mesma força "acima de todos os desafios" se arrogava o direito de atacar outros países preventivamente, caso se sentisse intimidada.

O governo Bush vê o ""resultado positivo" dessa ameaça no ditador líbio, Muammar Gaddafi, que abandonou seu programa de armas e decidiu abrir o país a investimentos americanos. Mas lá onde realmente mora o perigo, segundo os EUA, tal política provocou apenas o efeito inverso.
No mundo árabe, líderes que possam parecer alinhados com os EUA tornaram-se ainda mais impopulares como resultado da invasão americana no Iraque.

Nos outros dois integrantes do chamado ""eixo do mal" (Coréia do Norte e Irã), a mensagem dos "ataques preventivos" pode ter levado a uma aceleração também "preventiva" de projetos nucleares capitaneados por seus líderes.

Como reforço à atual política, tanto Bush quanto John Kerry afirmaram na campanha eleitoral que os EUA não se submeterão a nenhuma instituição internacional para tomar medidas bélicas que considerem necessárias.

O descaso com a ONU e com a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) é exacerbado ainda por orçamentos militares recordes no governo Bush e por uma movimentação de tropas pelo mundo ainda não totalmente compreendida. O resultado é que todo um conjunto de alianças militares construídas ao longo dos últimos 50 anos estremeceu nos anos Bush. A magra coalizão militar no Iraque é a prova disso.

Há pouco mais de duas semanas, os EUA aprovaram um novo orçamento militar de US$ 422 bilhões para 2005, visando a modernização e o deslocamento de suas tropas pelo globo. Como Bush, Kerry promete manter os investimentos militares nos mesmos níveis atuais, aumentar em cerca de 40 mil homens a força ativa e continuar a atual reorganização.

Nos últimos dois anos, cerca de 70 mil militares americanos estacionados em bases tradicionais na Europa, Ásia e Arábia Saudita começaram a ser transferidos para atender às novas diretrizes.

Geopoliticamente, ganharam predominância na Ásia e ao sul da China países como Filipinas, Malásia e Cingapura; na África e a oeste da Arábia Saudita, o minúsculo africano Djibuti; e ao sul da Rússia e oeste da China, o Cazaquistão e o Uzbequistão, próximos às reservas petrolíferas do mar Cáspio. No centro do Oriente Médio, os EUA têm outros 120 mil homens no Iraque, além de 18 mil no Afeganistão. Entre os dois países, está o Irã. Logo abaixo, o pequeno Qatar também vem recebendo novos contingentes.

Michael O'Hanlon, analista do Instituto Brookings, afirma que a justificativa da guerra ao terror facilitou o deslocamento das tropas americanas para todas essas regiões, que atendem, na verdade, a objetivos geopolíticos.

Além de terroristas, os EUA estariam perseguindo a manutenção e a estabilidade de reservas, principalmente de petróleo, para uma nova fase, já em andamento, da competição econômica global.

Em 2004, por exemplo, 40% do aumento da demanda mundial por petróleo terá como origem a China, segundo dados do FMI. Em dez anos, os chineses poderão estar totalmente dependentes do petróleo da Arábia Saudita e da região do mar Cáspio.

Para Kenneth Pollack, ex-membro do Conselho Nacional de Segurança e especialista em Oriente Médio, os EUA crêem ter ""legítimo interesse" na região. A razão seria o fato de toda a economia mundial e americana estar baseada em petróleo barato. O fato de um litro de gasolina custar nos EUA menos do que em um país pobre como o Brasil (R$ 1,56 contra R$ 2,14) é um exemplo disso. ""O fato de os EUA não importarem a maior parte do seu óleo da Arábia Saudita é irrelevante", diz Pollack, já que problemas de fornecimento no país teriam impacto global nos preços. ""Daí a preocupação em assegurar a região."

Cerca de 25% do petróleo consumido hoje no mundo sai do Golfo Pérsico, sendo 15% da Arábia Saudita. Além de ter as maiores reservas, o país produz seu petróleo a 30% do custo do da Rússia, por exemplo. De seu comércio com a África, no ano passado, 85% das importações dos EUA foram em petróleo. As exportações tiveram percentual semelhante em máquinas para extração do óleo.

FERNANDO CANZIAN
Folha de São Paulo, 24 de outubro de 2004


A NOVA CORRIDA ARMAMENTISTA

Geórgia (novembro, 2003), Ucrânia (novembro, 2004), Quirguistão (março, 2005) e, mais recentemente, em maio, Usbequistão: um a um, caem ou sofrem sérios desafios todos os governos dos países integrantes da Comunidade de Estados Independentes (CEI), formada após o fim da União Soviética, em 1991. Em todos os casos, os movimentos de oposição reclamavam eleições livres, democracia e eram, em grande parte, financiados por organizações não-governamentais e fundações estadunidenses. É fácil supor, portanto, que Washington promove a subversão de regimes considerados hostis e situados na “esfera de influência” da Rússia, como fez tantas vezes no passado, em todas as partes do planeta. Mas, dessa vez, a questão é mais complicada: os governos que caíram eram aliados, e não adversários da Casa Branca.

Eduard Shevardnadze, que chefiava o governo deposto da Geórgia, não era nenhum socialista. Ao contrário, durante a Perestroika promovida por Mikhail Gorbatchev, representava a ala mais liberal e simpática ao capitalismo no antigo governo soviético. Coube a ele a iniciativa de abrir a região do Cáucaso (Geórgia, Armênia e Azerbaijão) para “assessores militares” estadunidenses. Ascar Acaiev, deposto no Quirguistão, permitiu a instalação de bases militares dos Estados Unidos em seu país. Leonid Kuchma, o perdedor na Ucrânia, foi eleito, em 2004, com uma plataforma de maior aproximação com os Estados Unidos e, a pedido de George Bush, enviou tropas ao Iraque. Islam Karimov, presidente do Usbequistão, desafiado por grandes manifestações de rua nas primeiras semanas de maio, é considerado um quase representante da Casa Branca na Ásia Central.

Como explicar, então, o comportamento aparentemente contraditório do governo Bush?

A explicação radica no amadurecimento da doutrina da “guerra preventiva”, formulada pela equipe neoconservadora que inspira a estratégia de política externa da Casa Branca, e publicamente anunciada por Bush, logo após o atentado de 11 de setembro de 2001. A “guerra preventiva” – conceito caro a Adolf Hitler – abriu aos Estados Unidos a possibilidade de atacar qualquer país, região ou grupo considerado uma ameaça potencial à segurança nacional estadunidense, especialmente aqueles integrantes do famoso “eixo do mal” (Irã, Síria, Coréia do Norte, Cuba e Iraque e Afeganistão antes da invasão).

Esse conceito foi superado por outro, bem mais agressivo e abrangente: o de “dominação militar global”, discretamente anunciado pelo Pentágono em março de 2005. A nova estratégia de política externa da Casa Branca passou quase que completamente despercebida pela mídia, observa o professor canadense Michel Chossudovsky, exceto por uma pequena nota dada pelo Wall Street Journal, um dos porta-vozes do pensamento neoconservador.

O documento atribui, explicitamente, aos Estados Unidos um mandato militar global, isto é, o direito de agir militarmente mesmo em situações em que não ocorram guerras e conflitos. E mais: a Casa Branca concede a si própria o direito de promover operações militares dirigidas contra países não hostis aos Estados Unidos, mas considerados estratégicos do ponto de vista de seus interesses. Como explica o Wall Street Journal (edição de 11 de março de 2005):

“Essencialmente, o documento expressa a convicção de que os Estados Unidos estão engajados numa luta global contínua que se estende para muito além de campos de batalha específicos, como o Iraque e o Afeganistão. A ação militar passa a ser vista de uma forma muito mais positiva, focada na mudança do mundo e não apenas em resposta a conflitos, como a eventualidade de um ataque da Coréia do Norte à Coréia do Sul, assim assumindo uma importância maior em países que não estão em litígio com os Estados Unidos.”

Ainda segundo o WSJ, o documento trata de quatro tipos de problemas centrais, que devem ser atacados por forças especialmente treinadas, nenhum deles envolvendo confrontações militares tradicionais: “Construção de parcerias para derrotar ameaças terroristas domésticas; defesa do país, incluindo ataques contra grupos terroristas que planejam atentados; influenciar as escolhas de países que se encontrem em situação de ter que optar por alguma decisão estratégica, como a China e a Rússia; impedir a aquisição de armas de destruição em massa por Estados hostis e grupos terroristas”.

Não basta, portanto, a um governo qualquer proclamar suas juras de amor a Washington. Além disso, ele deve provar-se politicamente capacitado a se integrar ao processo de “mudança do mundo” nos termos postos pela Casa Branca. Caso não esteja à altura da tarefa, não importa o motivo, será derrubado pelos meios considerados mais convenientes por Washington, incluindo financiamento de grupos de oposição, treinamento de mercenários e, se necessário, intervenção direta (o dramático aumento de verbas destinadas a financiar publicações e a atividade da oposição em Cuba, aprovadas em maio de 2004 pelo Congresso dos Estados Unidos, é um bom exemplo disso). O importante é que os governos façam sempre a “opção estratégica” mais “correta”.

Torna-se compreensível, nesse quadro, a derrubada dos governos aliados mas “instáveis” dos países integrantes da CEI. A Rússia nunca deixou de ser considerada uma rival pelos Estados Unidos, especialmente por sua localização geoestratégia, no coração da Eurásia. Desde 1992, o establishment estadunidense proclamou sua intenção de isolar a Rússia e impedir sua reconstrução como potência euro-asiática. Por isso, torna-se necessário garantir a posse de governos “estáveis” nos países que formam sua antiga “esfera de influência”, com o objetivo de criar um “cordão sanitário”.

A nova doutrina prevê também que Washington deve “dissuadir” a Rússia e a China, abertamente consideradas potências rivais, a abandonar qualquer pretensão de competir militarmente com os Estados Unidos. Com esse fim, a indústria bélica deve constituir um poderio tão esmagador, que tornaria ridículo sequer alimentar a idéia de um enfrentamento (esse é o fundamento doutrinário do gigantesco orçamento militar dos Estados Unidos, que em 2005 atingiu uma cifra equiparável ao PIB brasileiro).

O tratamento dispensado à União Européia é um pouco mais sutil, pois, em tese, os europeus são considerados aliados. Ainda assim, é óbvio que existe uma disputa, movida principalmente contra o imperialismo franco-britânico, explicitamente demonstrada durante as preparações da invasão do Iraque (jamais aprovada por Paris e Berlim). Concretamente, delineia-se o eixo integrado por Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, Austrália e, subsidiariamente, Israel, contra a UE e as outras potências rivais. O principal foco é a Eurásia (o que não exclui, obviamente, as outras partes do planeta, incluindo a Amazônia Internacional).

Essa disputa não declarada explica a ansiedade dos governos alemão e francês por aprovar a nova constituição européia, contra a posição dos movimentos de esquerda: trata-se de preparar a UE para entrar de sola na nova corrida armamentista com os Estados Unidos. E explica também a euforia com o lançamento, em 19 de janeiro, do Super Jumbo A380, um avião gigante com capacidade para 555 passageiros, fabricado por um consórcio europeu, com o objetivo de competir com a estadunidense Boeing. Os mais importantes líderes europeus participaram da cerimônia que marcou o primeiro vôo do avião, e enalteceram a capacitação tecnológica da Europa.

O resultado disso tudo não poderia ser mais nefasto. Os Estados Unidos promovem uma nova corrida armamentista, envolvendo cifras e capacidade de destruição muito superiores às verificadas à época da Guerra Fria. Para manter os investimentos militares, os Estados terão que cortar ainda mais os gastos com as áreas sociais; terão que acentuar as características repressivas, policiais e militares, com o objetivo de reprimir movimentos e manifestações populares; por fim, terão que atacar de maneira cada vez mais radical e profunda qualquer vestígio de democracia.

Receita de grandes explosões. O preço, todos sabemos quem paga.


José Arbex Jr.
Caros Amigos – junho de 2005